Para quem esteve em coma nos últimos 10 anos e nunca jogou os últimos capítulos da série GTA, estes jogos criaram o conceito de “sandbox” – um mundo virtual onde podemos fazer tudo aquilo que nos apetece, quando nos apetece. E grande parte dessa liberdade passa por guiar carros que não nos pertencem, matar pessoas e fugir à polícia. Além disso, cada Grand Theft Auto tem a sua história, que se desenrola na forma de missões. Esta estrutura mantém-se em GTA IV, com as vantagens e desvantagens que isso implica.
Desta vez o personagem principal é Niko Bellic, e a cidade que a Rockstar nos oferece é Liberty City, uma réplica fabulosa de New York City. Niko é um ex-combatente de um país de leste que chegou aos Estados Unidos em busca do sonho americano. O seu primo Roman iludiu-o com promessas de dinheiro, carros desportivos e resmas de mulheres. A realidade no entanto é bem diferente…
As ruas de Liberty City fervilham de vida.
Sem dinheiro e sem emprego, Niko envolve-se rapidamente com o mundo do crime de Liberty City. Primeiro como motorista e logo de seguida como assassino, as qualidades de Niko destacam-se e os contactos multiplicam-se. Apesar de ser um criminoso sem escrúpulos, Niko parece sempre o mais normal de todos os personagens que habitam Liberty City, e é impossível não simpatizar com ele.
O essencial da história já sabem, os detalhes vão descobrir durante o jogo. Mas o melhor de GTA IV é que cada jogador vai criar a sua história, ou melhor, muitas pequenas histórias. Como aquela vez em que ia pela rua e reparei num stand cheio de carros desportivos. Entrei, subi ao segundo andar, escolhi o mais bonito e arranquei pela janela num salto para a rua! Este episódio não fez parte de nenhuma missão e ninguém me sugeriu que o fizesse, simplesmente aconteceu. Quando dois jogadores de GTA se encontram, há sempre histórias diferentes para contar.
As estrelas de GTA IV são a própria cidade e os personagens que a habitam. Liberty City não é o maior mundo virtual que a Rockstar já criou, mas é de longe o mais detalhado. A cidade está viva, e como a sua musa, nunca dorme! Simplesmente passear por Liberty City, visitar os seus pontos de maior interesse e observar como ela se altera com o nascer e o por do Sol ou com as alterações climatéricas, é uma experiência fascinante para os gamers mais atentos. Quem quiser roubar carros, motos ou até helicópteros, vai ter sempre um meio de transporte para percorrer a cidade. Mas também podemos ser mais honestos e apanhar um táxi ou o comboio como qualquer cidadão. Nem sequer falta a habitual conversa de taxista durante o percurso.
Os transportes públicos são uma boa alternativa.
A cidade está dividida em 3 zonas, ligadas por várias pontes. No início do jogo as pontes encontram-se fechadas devido a ameaças terroristas. Com o desenrolar das missões vamos desbloquear todas as zonas da cidade. O Empire State Building, a Estátua da Liberdade, Central Park e Times Square, está tudo lá, ou pelo menos as versão Rockstariana desses locais. Um pormenor interessante é que mesmo com as pontes fechadas é possível passar para o lado de lá, desde que se iluda a vigilância policial. A perseguição que se segue é suicida, mas é muito melhor do que colocar uma parede de betão intransponível na ponte.
Ao contrário de Paradise City (Burnout Paradise), esta cidade está cheia de habitantes, sempre atarefados nas suas vidas virtuais. Seja a atender num restaurante, a prostituir-se ou simplesmente a dizer barbaridades no meio da rua, cada cidadão parece real e quase único. Estes figurantes são muito importantes para criar a sensação de um mundo credível. Se dermos um encontrão agressivo a um transeunte, nunca sabemos qual vai ser a sua reacção. Pode fugir assustado, partir para violência, ou simplesmente insultar-nos. E esse insulto pode ser em inglês, espanhol, ou até um bem português filho da p$%&!!!!
As personagens que fazem parte do guião de GTA IV são ainda melhores que os figurantes. É incrível como vamos criar relações de amizade, admiração, desprezo, amor e ódio por tantos “bonecos” de um simples jogo. Este factor de ligação com as personagens coloca-nos algumas decisões difíceis de tomar durante o jogo. As cenas que antecedem cada missão estão excelentes, com grandes prestações da equipa que fez a animação e dos actores que deram a voz. E claro que o humor da Rockstar está sempre presente.
Apesar da fórmula do jogo ser a mesma de sempre, há um elemento novo: em GTA IV somos quase forçados a ter uma vida social. Quanto mais amigos fazemos, mais eles nos ligam (sim, temos telemóvel) a convidar para ir beber um copo, ver um strip ou jogar bowling. Podemos dizer que não, ou nem sequer atender o telemóvel, e continuar o que estávamos a fazer. Mas essa atitude tem dois inconvenientes: primeiro é realmente útil ter bons amigos no jogo que nos oferecem táxis gratuitos ou armas mais baratas, e em segundo lugar é difícil estar sempre a dar negas a um amigo e não ficar com problemas de consciência. Sim, é só um jogo, mas eles parecem tão reais!
Este homem é muito perigoso
Já estão a perceber que GTA IV atinge uma complexidade de emoções e sentimentos pouco comuns num jogo de computador. É um autêntico Second Life, onde temos namoradas, amigos, inimigos e liberdade para viver à nossa maneira. O único senão é que a vida não é fácil em Liberty City, principalmente para um imigrante como Niko. Deixamos então de lado o romance e todo o entretenimento que a cidade nos oferece, e voltamos ao mundo do crime.
Em GTA IV temos o arsenal habitual à nossa disposição. Começamos a lutar com os punhos, e vamos recebendo armas cada vez mais devastadoras ao longo do jogo. Pistola, caçadeira, sniper, granada, Ak-47, etc… qualquer gamer já as conhece de cor. O famoso “car jacking”, ponto central da série GTA, está mais elaborado. O método depende do contexto, e pode implicar partir um vidro, fazer ligação directa, puxar o condutor para fora do veículo ou simplesmente apontar-lhe uma arma e pedir-lhe para sair. O sistema de combate também mudou um pouco, e agora é possível ficar escondido e espreitar para disparar, como em Rainbow Six. Tanto os tiroteios como os combates corpo a corpo são competentes mas podem ainda ser melhorados.
A condução evoluiu, e depois de um período de habituação está mais divertida que nos jogos anteriores. Naturalmente não há marcas de carros reais, mas é fácil de reconhecer um Porsche, um Ferrari e tantos outros automóveis famosos. Se gostarem muito de conduzir a altas velocidades, podem participar em corridas de rua sempre que quiserem. Também podemos pilotar motos, barcos e helicópteros.
Graficamente este é o GTA mais real de sempre, em Full HD. Os tons são mais cinzentos e sombrios, criando por vezes um ambiente muito pesado. Percorremos toda a cidade sem uma única pausa para loading e os detalhes são fantásticos. Os reflexos na estrada quando chove, o fumo que sai dos escapes, a vista aérea de Liberty City… está tudo perfeito.
A Rockstar sempre deu grande atenção às bandas sonoras de GTA, e este capítulo não foge à regra. As diversas estações de rádio podem ser ouvidas dentro dos carros, mas também em casa, bares, restaurantes, etc… A selecção musical é vasta e de certeza que há matéria para agradar a gregos e troianos. Também não faltam as estações onde a conversa é o prato forte, e sempre hilariante. Um pormenor interessante é que por vezes ouvimos na rádio comentários relacionados com missões que desempenhámos no dia anterior.
Há outros pormenores que fazem de GTA um mundo cada vez mais complexo. A internet, com web, email e até SPAM! A televisão com vários canais, que vale mesmo a pena ficar a ver durante largos minutos. Os mini-jogos de bowlling e setas. O sistema de GPS. A base de dados da polícia. A lista podia continuar…
Ah… o cheiro de carros da polícia a arder pela manhã.
Como se não bastassem as horas intermináveis que podemos passar a jogar GTA IV em modo singleplayer, ainda temos o multiplayer online. São vários modos de jogo para jogar com amigos através da internet, com destaque para o “polícias e ladrões”. Recordando as brincadeiras de infância, os jogadores dividem-se 2 grupos. Os ladrões têm que garantir que o seu líder chega a um determinado ponto do mapa para fugir. Os polícias têm que o impedir de lá chegar. O resultado são perseguições intensas e algumas histórias bem engraçadas.
Apesar de ter recebido muitas pontuações máximas, GTA IV não é perfeito. Há alturas em que todo o amor que sentimos por este jogo se transforma em ódio mortal. O problema é a ausência de checkpoints durante as missões. Principalmente naquelas missões que consistem numa primeira parte longa e aborrecida (seguir alguém pela cidade) e uma segunda parte intensa e difícil (matar, roubar, fugir). O resultado é que cada vez que não conseguirmos terminar a missão, somos forçados a repetir tudo de novo, e ao fim de duas ou três tentativas começamos a arrancar cabelos. Um simples checkpoint no meio da missão resolvia a questão e evitava alguns comandos partidos.
Outro pormenor irritante são as árvores. Parece que a mãe natureza criou os obstáculos mais implacáveis de Liberty City. Ao contrário dos postes, que caem ao mínimo toque, as árvores permanecem de pé aconteça o que acontecer. Atirem um camião TIR contra uma árvore, e nem uma folhinha se mexe. É verdade que é apenas um pormenor, mas é à custa de muitos pormenores bem realizados que GTA IV consegue a sua genialidade, e este falhou.
Agora que já fiz o meu trabalho e encontrei algo para criticar em GTA IV, resta dizer que este jogo é fabuloso e que qualquer gamer que se preze está obrigado a mergulhar de cabeça no mundo que a RockStar criou para nós.
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Trailer:
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