Assassin’s Creed foi provavelmente o jogo que mais hype gerou na PlayStation 3 em 2007. A Ubisoft, através da sedutora Jade Raymond, conseguiu convencer todos os media que estavam a desenvolver o melhor jogo da nova geração. Chegaram a afirmar que este é o único jogo que merece o título de next-gen.
Já vi assassinos mais discretos…
Numa coisa estamos de acordo, Assassin’s Creed é o jogo mais ambicioso que já foi lançado na PS3. O mundo do estilo “sandbox” onde podemos andar livremente e interagir com cenários gigantescos e milhares de figurantes, é de facto revolucionário. Pensem em GTA, no tempo das cruzadas, com gráficos de luxo. Em vez de carros e motos andamos a cavalo, e no lugar de pistolas e caçadeiras temos espadas e facas. O potencial é enorme, e as espectativas que tinha-mos para este jogo também.
A história é um dos pontos fortes do jogo. Numa época em que quase todos os jogos são sequelas, é refrescante encontrar um argumento original. Como se já não bastasse encarnar um assassino no século XII, ainda temos uma trama muito mais profunda para descobrir. Este aspecto do jogo foi um segredo bem guardado pela imprensa, a pedido da Ubisoft, mas é revelado assim que carregamos no Start. Digamos apenas que faz lembrar o Matrix.
A nossa missão consiste em guiar Altair, um assassino caido em desgraça, no caminho traçado pelo seu mestre. Para se redimir, Altair vai ter que visitar 3 cidades e tirar a vida a 9 figuras chave das cruzadas. As regras do clã de assassinos dizem que Altair não pode tirar a vida a inocentes, deve ser discreto e nunca deve colocar o clã em perigo.
Para desempenhar as nossas tarefas estamos armados com facas, que podemos atirar à distância, e uma espada. Além disso temos uma arma muito especial, uma lamina que ocupa o lugar de um dedo de Altair, perfeita para assassinar alguém sem dar nas vistas. No início do jogo Altair é castigado pelo seu mestre e fica quase sem armas e habilidades. Com cada missão bem sucedida o jogador recebe um prémio e vai recuperando todo o seu poder.
Até aqui tudo leva a crer que estamos perante um dos melhores jogos do ano, um misto entre GTA e Hitman, passado em 1191 com uma história de conspiração cativante. Continuem a ler e verão que não é bem assim…
Quantos são? Quantos são!?
Os gráficos que a Ubisoft criou são fabulosos. As cidades são as mais detalhadas que já vimos e todo o ambiente transporta-nos para o mundo de Altair. No entanto começam aqui os problemas: a frame-rate sofre com todo este detalhe, por vezes de maneira que afecta a jogabilidade. Objectos, texturas e sombras aparecem e desaparecem de forma abrupta, um efeito desagradável que pode passar despercebido durante algum tempo mas acaba por se tornar evidente. E ocasionalmente podem mesmo encontrar alguns bugs que não se admitem num produto deste nível.
O segredo para criar um mundo tão vasto de forma credível é a variedade e a inteligência artificial dos seus habitantes. Quando há lacunas graves em ambos os aspectos, o resultado é um jogo muito repetitivo. Quando uma pedinte aparece sucessivamente em vários locais de várias cidades diferentes sempre a repetir a mesma conversa, algo está errado. As falas e comportamentos dos figurantes são muito limitados, portanto o efeito inicial de um mundo complexo habitado por milhares de pessoas desfaz-se rapidamente.
Antes de começar uma missão, temos que montar um cavalo e procurar a cidade onde se encontra o nosso alvo. Cavalgar pode ser divertido ao início, mas depois de 5 minutos a galope torna-se simplesmente um mal necessário. Em GTA, as viagens de carro ou mota são curtas e intensas, a altas velocidades e com o rádio sempre a tocar. Em Assassin’s Creed as viagens de cavalo são longas e rapidamente se tornam aborrecidas.
Controlar Altair não é nada intuitivo ao início. Depois de algum tempo torna-se mais fácil, mas há sempre alturas em que ele não faz aquilo que esperávamos. A Ubisoft criou cenários fantásticos e todos os edificios têm fachadas muito reais, com todo o tipo de relevos. É assim que Altair consegue trepar quase todas as paredes, com uma agilidade invejável. Depois de chegar ao topo, podemos saltar cá para baixo num impressionante salto de fé, que termina sempre num monte de feno. Seria interessante se o SIXAXIS fosse usado para guiar Altair até ao feno, em vez de ser tudo automático e sem emoção.
Salta! Salta! Salta!
O combate é um aspecto essencial do jogo, ou pelo menos deveria ser. Apesar de o objectivo de Altair ser passar despercebido e matar apenas o seu alvo, é inevitável combater com inúmeros soldados que se atravessam no nosso caminho. Estes momentos deveriam ser desafios emocionantes, mas são apenas mais uma rotina no jogo. Um botão chega para defender, e outro para o contra-ataque mortal. Com esta combinação conseguimos matar um soldado de cada vez, e isso chega. Porque mesmo quando nos encontramos rodeados de 10 inimigos, eles tiram senha para atacar e morrer aos nossos pés. Ao início tem piada, passado algum tempo é mais uma tarefa que o jogo nos obriga a repetir para avançar.
Em GTA ou Hitman, temos liberdade total para fazer alguns disparates. Mas normalmente pagam-se caro. Em GTA, quanto mais matamos e roubamos, mais policia vem atrás de nós até ao ponto de ser impensável o confronto directo e muito complicada a fuga. Em Assassin’s Creed quando alertamos os guardas, não é grave. Podemos fugir a correr pelos telhados até surgir uma oportunidade de nos escondermos, ou podemos simplesmente lutar. E como já disse, é só uma questão de matar um a um todos os que se atreverem a desafiar-nos. Eventualmente matamos todos e podemos voltar à nossa vida com tranquilidade.
Nesta geração de videojogos surgiu uma nova moda, as cenas que separam os níveis deixaram de ser apresentadas como pequenos filmes e passaram a ser parte do jogo, com a possibilidade de continuar a controlar o nosso personagem durante a cena. Em Assassin’s Creed este conceito é levado ao extremo, o que nos leva a passar longos minutos apenas a ouvir outro personagem a falar, enquanto podemos mover Altair de um lado para o outro impacientemente. Muito desinspirada esta opção da Ubisoft, principalmente quando estamos a repetir uma cena e temos que levar com a conversa toda de novo.
Mas o pior são os bloqueios ocasionais. É verdade, o jogo bloqueia a consola aleatoriamente, um problema grave que a Ubisoft promete resolver em breve com um update. Esperemos que sim, porque é muito aborrecido estar a meio de uma missão e ter que fazer um reboot forçado.
A lamina de Altair é uma arma temível.
Como já sabem o jogo consiste em executar 9 alvos. O que não sabem é que o caminho para cada alvo é sempre o mesmo. Cavalgar até à cidade, subir a uma torre, receber as instruções do clã, executar duas de seis tarefas possíveis para obter informações e assassinar o alvo. Só o último ponto é que muda conforme a missão, mas a maior parte do tempo é passado a executar os outros passos que são sempre iguais. Em Hitman, cada missão tinha um conjunto de cenários, personagens e objectivos únicos. Em Assassin’s Creed cada missão é mais do mesmo.
Se leram tudo até aqui já perceberam que Assassin’s Creed se torna extremamente repetitivo, e que acabar o jogo requer mais tempo e paciência do que destreza e imaginação. A única coisa que nos prende ao jogo é a vontade de descobrir a verdade, mas nem essa recompensa vão ter no final do jogo. A Ubisoft planeia fazer uma triologia e ainda vamos ter que esperar muito para desvendar todos os mistérios.
A Ubisoft lançou as bases para os jogos de acção da nova geração, mas não cumpriu o objectivo por duas razões. Em primeiro lugar porque o jogo está cheio de bugs e problemas técnicos que prejudicam a jogabilidade. E em segundo, porque se limitaram a criar meia duzia de tarefas que nos obrigam a repetir vezes sem conta. Se conseguirem dar a volta a estes dois problemas, Assassin’s Creed 2 poderá ser um grande jogo.
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